segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Jovens versus Justiça


Vivem na periferia de Lisboa, têm entre 16 e 17 anos, já tiveram pelo menos uma retenção escolar ou são de famílias que enfrentam problemas de negligência parental, violência doméstica ou dependências de álcool ou drogas. Este é o perfil da delinquência juvenil na região de Lisboa, que surge na investigação do Centro de Estudos Sociais (CES) de Coimbra.
O estudo, apresentado no passado dia 7 de Novembro, na Faculdade de Economia da Universidade Coimbra, mostra que mais de 60% destes jovens de Lisboa presentes a juízes de menores faltam às aulas com frequência e 76% tinham já uma ou mais retenções escolares. Também mais de metade mostrou comportamentos agressivos e um quarto mostrou ter "problemas de desobediência ou com figuras de autoridade".
Os dados permitem aos investigadores concluir que as retenções escolares estão relacionadas com práticas de delinquência. Daí a urgência de detetar estas situações numa fase precoce: "Não é possível pensar numa solução sem se pensar na escola", explicou à Lusa o coordenador do projeto, João Pedroso, avisando que as medidas atuais são insuficientes e que qualquer política vocacionada para esta população terá de envolver a família e o meio.
O projeto de investigação do CES analisou 100 inquéritos tutelares educativos arquivados e 104 processos tutelares findos, de 2012, provenientes dos tribunais de família e menores de Lisboa, Setúbal, Barreiro, Loures e o Juízo de Família e Menores Grande Lisboa-Noroeste (Sintra). Os resultados revelam ainda que cerca de metade destes jovens já teve um contacto com o sistema judicial e quase um terço foi alvo de uma "medida tutelar educativa" - 18 na comunidade e dez em internamento.
Um terço dos jovens invoca problemas económicos graves como justificação principal para ter praticado os crimes. Contudo, com a crise, não se tem observado "um aumento visível" da delinquência juvenil na área metropolitana de Lisboa, diz João Pedroso, ressalvando ainda que "todos os jovens" levados a tribunal vêm de famílias empregadas, embora a viver com o salário mínimo e com profissões pouco qualificadas.
Por outro lado, os grupos familiares deparam-se com "múltiplas problemáticas", de violência doméstica (23%) a negligência parental (mais de 30%) ou dependências de álcool ou drogas (10%).

Por Kátia Catulo, Jornal i


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